Pois bem, foi uma experiência impactante e que me despertou para uma questão que só fui capaz de resolver anos depois. A profusão de cores, os sorrisos, serpentinas, fantasias, brinquedos populares, blocos, pretinhas (inclusive as do Congo), branquelos, mamelucos e os mais, tudo e todos numa só sintonia, formando o exército da folia que marchava muitas vezes ao som das orquestras de frevo.
Sim, milhares de foliões acompanhando genuínas orquestras de frevo. Além do singular impacto sensorial, a questão que me veio a cabeça foi a seguinte: como é possível fazer muito com "tão pouco"?
Minha ignorância de quando ainda imberbe não me permitiu perceber a grandiosidade e pujança da cultura goianense em seu esplendor. Mal sabia eu que em alguns anos aquele Carnaval que nem bem compreendia, sofreria duros golpes.
Com o passar dos anos fui devidamente apresentado a nossa cultura e entendendo cada vez mais o seu imenso valor. Ao mesmo tempo o reinado de Momo em Goiana sofria drásticas mudanças. Blocos tradicionais optavam por trios elétricos, como foi o caso do Bloco das Professoras (ou dos Professores como querem os "coxinhas") que, desde então, nunca mais foi o mesmo.
Eu e outros passamos a nos queixar da invasão da música baiana. Recordo-me de uma histórica charge, do antigo Jornal A Província, onde um trio elétrico passava ou ameaçava passar por cima de um grupo de caboclinhos. A cultura local era fortemente golpeada, mas, ainda possuía forças para reagir.
Hoje, quando nem bem esperávamos, passamos (incluindo eu, claro) a criticar o nosso Carnaval de forma geral. Nas, redes sociais é um festival de #partiuOlinda ou #partiuRecife, sempre justificados por um discurso em que se enfatiza a difamação do Carnaval de Goiana.
Parece-me claro, diante da incapacidade governamental, que falar mal do Carnaval não melhora em nada a situação e, tampouco, irá mudar a cotação do dólar. E, já me antecipo para que fique claro, estas palavras tortas que escrevo em nada representam uma crítica a cobertura da mídia local, da qual faço parte e que de forma competente vem mostrando a realidade da nossa folia ou, até mesmo, a ausência dela. Afinal de contas, como bem dizia o meu avô, "não dá para tapar o sol com a peneira".
Então, após mais de quinze anos, volto mais uma vez a refletir sobre uma questão relacionada ao Carnaval que até agora não consegui resolver: por que hoje não é possível fazer muito com "tão pouco"?
É fato que a festividade proporcionada pela Prefeitura Municipal é, para dizer o mínimo, extremamente acanhada. Mas, até onde vai a responsabilidade de todos nós quando se trata da maior festa popular do mundo?
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