quarta-feira, 29 de abril de 2015

Jeep tira dependência de Goiana da produção de cana de açúcar



A Fiat inaugurou um polo automotivo da Jeep em Goiana, cidade de 70 mil habitantes em Pernambuco, que tinha sua economia dependente da produção de cana de açúcar. A população prestes a ingressar no mercado de trabalho precisou de um processo de aprendizagem, uma vez que não tinham qualquer experiência. O investimento possibilitou, de imediato, 5,3 mil pessoas empregadas no complexo industrial e mais 11 mil trabalhadores no médio prazo.

Ao inaugurar o Polo automotivo Jeep em Goiana (PE) na terça-feira, 28, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), marca a superação de uma série de desafios. Talvez um dos mais importantes tenha sido encontrar capital humano para o novo empreendimento em uma região sem qualquer experiência ou tradição na produção de veículos. Agora, quase cinco anos após ter dado o primeiro passo do projeto, a companhia já tem 5,3 mil pessoas empregadas no complexo industrial, que deve contar com 11 mil trabalhadores no médio prazo, com a aceleração da operação rumo à capacidade máxima de 250 mil carros por ano. 

O impacto imediato da fabricação de veículos Jeep na economia do município pernambucano de 70 mil habitantes é a menor dependência da produção de cana de açúcar e o crescimento do emprego formal. “Desde o início nós queríamos trazer oportunidades para a região, contratando trabalhadores daqui”, lembra Adauto Duarte, diretor de RH do Polo Automotivo Jeep.

Segundo ele, para alcançar esta meta a empresa realizou amplo trabalho de pesquisa no local um ano antes de começar a construir a unidade. “Rodamos mais de 15 mil quilômetros para entender como as pessoas viviam e quais eram as suas necessidades.” O esforço foi bem sucedido e hoje cerca de 80% dos trabalhadores do complexo industrial são nordestinos.

Com a disposição de causar o impacto positivo, a equipe da companhia sabia que não poderia simplesmente reproduzir ali as políticas de outras fábricas globais da Jeep. A ideia, desde o início, foi criar algo completamente novo, que melhor traduzisse o espírito inovador e tecnológico do empreendimento. A diferença em relação ao formato tradicional das montadoras de veículos começa já nas roupas dos funcionários. Desde o mais alto executivo da planta até os operários usam o mesmo uniforme: uma camiseta polo branca e cinza e uma calça clara, conjunto bem mais adequado às altas temperaturas de Pernambuco. A decisão de deixar de lado o terno dos líderes da companhia parece banal, mas reduz a distancia entre o alto comando da empresa e os trabalhadores mais próximos da rotina de produção.

Outra inovação acontece no chamado Centro de Comunicação, tido como o cérebro da fábrica, que gerencia a produção e busca solução para qualquer problema enfrentado ali. A área não tem as tradicionais baias para dividir o espaço. Inspirada por empresas de tecnologia como Apple e Google, a FCA decidiu que os funcionários trabalhariam em ambientes mais colaborativos, com mesas compartilhadas que permitem ao profissional se acomodar cada dia em um lugar. Duarte estima que a medida represente melhora de 40% na comunição, com menos tempo perdido com e-mails e telefonemas e mais agilidade na tomada de decisões.

NOVAS OPORTUNIDADES

A FCA fez uma grande concessão para atrair colaboradores para a linha de produção: eliminou a exigência de que os candidatos a vagas na empresa tivessem qualquer experiência prévia na indústria automotiva. “Isso trouxe a transformação social”, enfatiza o executivo ao citar o exemplo de Miriam, uma funcionária de 32 anos, que vendia doces e salgados para festas antes de arrumar um emprego na unidade. O caso é semelhante ao de muitos colaboradores da planta, com pessoas que deixaram a instabilidade da pesca de caranguejo e do trabalho na construção civil para encarar o desafio de fazer carros.

O critério de seleção dos funcionários da FCA foi puramente comportamental. “Sabíamos que seria necessário passar o conhecimento, mas a pessoa tinha de ser curiosa. Buscávamos o perfil certo: indivíduos com coragem para mudar e muita determinação”, explica.

Recrutar este público também exigiu nova estratégia. Além dos tradicionais anúncios na internet e meios de comunicação, carros de som circulavam por cidades da região para anunciar oportunidades e fazer a inscrição dos interessados. “Nossa única exigência era que o profissional fosse capaz de ler e escrever.” Para treinar o time inexperiente na indústria automotiva a empresa destaca ter deslocado para o complexo industrial profissionais reconhecidos como os melhores do mundo em suas áreas de atuação, incluindo 110 estrangeiros. Além da alta capacidade técnica, o time era composto por especialistas com talento para ensinar e transferir conhecimento.

Alguns profissionais selecionados para vagas nas linhas de montagem pernambucanas passaram por treinamento em outras unidades do Grupo FCA, incluindo plantas nos Estados Unidos e na Itália. Outra medida para facilitar a operação foi nomear líderes de equipe, profissionais que comandam times de seis pessoas e evitam atrasos e problemas na produção.

Paralelamente, a FCA trabalha para difundir conhecimento em engenharia fora dos portões do Polo Automotivo e para garantir o desenvolvimento de novos profissionais que poderão trabalhar na planta algum dia. A companhia compartilhou informações com oito instituições de ensino, incluindo formação técnica, graduação, pós-graduação e qualificação. O trabalho já está refletido em 78 cursos oferecidos na região, com criação de novos conteúdos e atualização da grades de programas que já existiam.


Em breve a propagação de conhecimento em que a companhia está tão empenhada ganhará impulso extra: a inauguração de um centro de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e de uma pista de testes. Os empreendimentos ficarão próximos do complexo industrial de Goiana e darão impulso para a recém descoberta vocação automotiva da região.

Fonte: jornalggn

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