Ao inaugurar o Polo automotivo Jeep em Goiana (PE) na
terça-feira, 28, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA), marca a superação de uma
série de desafios. Talvez um dos mais importantes tenha sido encontrar capital
humano para o novo empreendimento em uma região sem qualquer experiência ou
tradição na produção de veículos. Agora, quase cinco anos após ter dado o
primeiro passo do projeto, a companhia já tem 5,3 mil pessoas empregadas no
complexo industrial, que deve contar com 11 mil trabalhadores no médio prazo,
com a aceleração da operação rumo à capacidade máxima de 250 mil carros por
ano.
O impacto imediato da fabricação de veículos Jeep na
economia do município pernambucano de 70 mil habitantes é a menor dependência
da produção de cana de açúcar e o crescimento do emprego formal. “Desde o
início nós queríamos trazer oportunidades para a região, contratando
trabalhadores daqui”, lembra Adauto Duarte, diretor de RH do Polo Automotivo
Jeep.
Segundo ele, para alcançar esta meta a empresa realizou
amplo trabalho de pesquisa no local um ano antes de começar a construir a
unidade. “Rodamos mais de 15 mil quilômetros para entender como as pessoas
viviam e quais eram as suas necessidades.” O esforço foi bem sucedido e hoje
cerca de 80% dos trabalhadores do complexo industrial são nordestinos.
Com a disposição de causar o impacto positivo, a equipe da
companhia sabia que não poderia simplesmente reproduzir ali as políticas de
outras fábricas globais da Jeep. A ideia, desde o início, foi criar algo
completamente novo, que melhor traduzisse o espírito inovador e tecnológico do
empreendimento. A diferença em relação ao formato tradicional das montadoras de
veículos começa já nas roupas dos funcionários. Desde o mais alto executivo da
planta até os operários usam o mesmo uniforme: uma camiseta polo branca e cinza
e uma calça clara, conjunto bem mais adequado às altas temperaturas de
Pernambuco. A decisão de deixar de lado o terno dos líderes da companhia parece
banal, mas reduz a distancia entre o alto comando da empresa e os trabalhadores
mais próximos da rotina de produção.
Outra inovação acontece no chamado Centro de Comunicação,
tido como o cérebro da fábrica, que gerencia a produção e busca solução para
qualquer problema enfrentado ali. A área não tem as tradicionais baias para
dividir o espaço. Inspirada por empresas de tecnologia como Apple e Google, a
FCA decidiu que os funcionários trabalhariam em ambientes mais colaborativos,
com mesas compartilhadas que permitem ao profissional se acomodar cada dia em
um lugar. Duarte estima que a medida represente melhora de 40% na comunição,
com menos tempo perdido com e-mails e telefonemas e mais agilidade na tomada de
decisões.
NOVAS OPORTUNIDADES
A FCA fez uma grande concessão para atrair colaboradores
para a linha de produção: eliminou a exigência de que os candidatos a vagas na
empresa tivessem qualquer experiência prévia na indústria automotiva. “Isso
trouxe a transformação social”, enfatiza o executivo ao citar o exemplo de
Miriam, uma funcionária de 32 anos, que vendia doces e salgados para festas
antes de arrumar um emprego na unidade. O caso é semelhante ao de muitos
colaboradores da planta, com pessoas que deixaram a instabilidade da pesca de
caranguejo e do trabalho na construção civil para encarar o desafio de fazer
carros.
O critério de seleção dos funcionários da FCA foi puramente
comportamental. “Sabíamos que seria necessário passar o conhecimento, mas a
pessoa tinha de ser curiosa. Buscávamos o perfil certo: indivíduos com coragem
para mudar e muita determinação”, explica.
Recrutar este público também exigiu nova estratégia. Além
dos tradicionais anúncios na internet e meios de comunicação, carros de som
circulavam por cidades da região para anunciar oportunidades e fazer a
inscrição dos interessados. “Nossa única exigência era que o profissional fosse
capaz de ler e escrever.” Para treinar o time inexperiente na indústria
automotiva a empresa destaca ter deslocado para o complexo industrial
profissionais reconhecidos como os melhores do mundo em suas áreas de atuação,
incluindo 110 estrangeiros. Além da alta capacidade técnica, o time era
composto por especialistas com talento para ensinar e transferir conhecimento.
Alguns profissionais selecionados para vagas nas linhas de
montagem pernambucanas passaram por treinamento em outras unidades do Grupo
FCA, incluindo plantas nos Estados Unidos e na Itália. Outra medida para
facilitar a operação foi nomear líderes de equipe, profissionais que comandam
times de seis pessoas e evitam atrasos e problemas na produção.
Paralelamente, a FCA trabalha para difundir conhecimento em
engenharia fora dos portões do Polo Automotivo e para garantir o
desenvolvimento de novos profissionais que poderão trabalhar na planta algum
dia. A companhia compartilhou informações com oito instituições de ensino,
incluindo formação técnica, graduação, pós-graduação e qualificação. O trabalho
já está refletido em 78 cursos oferecidos na região, com criação de novos
conteúdos e atualização da grades de programas que já existiam.
Em breve a propagação de conhecimento em que a companhia
está tão empenhada ganhará impulso extra: a inauguração de um centro de
Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e de uma pista de testes. Os
empreendimentos ficarão próximos do complexo industrial de Goiana e darão
impulso para a recém descoberta vocação automotiva da região.
Fonte: jornalggn
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